Carolina Rebelo

Brincar repetitivo em crianças: quando é sinal de alerta?

6 outubro, 2025

Saiba quando o brincar repetitivo ou sem brilho em crianças pode indicar um sinal de alerta emocional e como os pais podem agir.

O que é o brincar repetitivo?

O brincar é parte essencial do desenvolvimento infantil. É nele que a criança experimenta, cria e transforma o mundo ao seu redor.
Mas, em alguns momentos, esse brincar perde vitalidade. A cena se repete, a imaginação não avança, e a criança parece presa em um mesmo roteiro.

Esse comportamento é conhecido como brincar repetitivo. Ele pode aparecer em diferentes fases e não significa, de imediato, um problema grave… mas pode ser um convite à escuta atenta.

Brincar repetitivo é sempre um problema?

Nem sempre. Muitas vezes, a repetição é uma forma da criança se sentir segura, explorando um mesmo gesto ou história até se apropriar dele.
No entanto, quando a brincadeira parece sem brilho, sem criatividade e sem alegria, pode ser um sinal de que algo da vida emocional da criança não está encontrando outro lugar para se expressar.

O psicanalista Winnicott descreveu o brincar como um espaço onde o mundo interno e externo se encontram. Quando esse espaço perde força, a criança pode estar tentando comunicar, de forma silenciosa, algo que ainda não consegue colocar em palavras.

Exemplos de brincar sem brilho

  • Criança que repete todos os dias a mesma cena de faz de conta, sem acrescentar novidades.

  • Jogos automáticos, mecânicos, que parecem mais uma obrigação do que diversão.

  • Apego a um único brinquedo ou roteiro de brincadeira, sem variação.

Esses comportamentos podem ser entendidos como um pedido implícito de cuidado. Como se a criança dissesse, por meio da brincadeira: “aqui dentro algo está parado, preciso de ajuda para seguir adiante”.

Como os pais devem agir?

Quando o brincar repetitivo aparece, a primeira reação não deve ser interromper ou corrigir. O ideal é acolher e observar. Mais do que mudar o enredo, é estar junto, mostrando à criança que ela não está sozinha naquele gesto.

Algumas atitudes práticas:

  • Prestar atenção ao que se repete.

  • Entrar na brincadeira sem tentar mudar o roteiro de imediato.

  • Oferecer segurança e previsibilidade no ambiente.

  • Conversar com a criança, mesmo que ela não responda diretamente sobre o que sente.

Esse tipo de presença possibilita que a criança se sinta compreendida e, aos poucos, abre espaço para que a imaginação volte a florescer.

Quando buscar ajuda profissional?

Se a repetição for muito intensa, prolongada ou vier acompanhada de outros sinais — como isolamento, dificuldade de interação social, tristeza constante ou regressões no comportamento — pode ser hora de procurar orientação psicológica.

O acompanhamento não serve para “resolver problemas”, mas para oferecer à criança um espaço seguro onde possa brincar de novo com vitalidade, elaborando suas emoções e retomando o prazer de criar.

Conclusão

O brincar é mais do que diversão: é parte fundamental do desenvolvimento emocional da criança.
Quando esse brincar se torna repetitivo ou sem brilho, não significa necessariamente algo grave, mas pode ser um pedido de escuta.

Pais e cuidadores têm papel essencial: observar, sustentar e, quando necessário, buscar apoio profissional.
Afinal, brincar é viver, criar e transformar — e toda criança merece um espaço para isso florescer.

 

Meu encontro com Winnicott: a delicadeza dos pequenos gestos

2 setembro, 2025

O que me aproxima de Winnicott não é apenas sua teoria, mas a forma como ele olhava para a vida.

Ele não escrevia sobre conceitos distantes, mas sobre relações vivas.

Sobre o bebê que só pode existir em contato.

Sobre o gesto simples de um cuidado que sustenta.

Sobre a possibilidade de sermos nós mesmos, quando alguém nos oferece presença.


Ao ler Winnicott, encontro descrições de cenas cotidianas que transformam a clínica em poesia. Ele me ensina a prestar atenção aos pequenos detalhes... um silêncio, um olhar, um respiro... um movimento mínimo. É aí que a vida se revela e que o encontro acontece.


Na minha clínica, sinto Winnicott como um lembrete constante de que não há fórmulas prontas. Cada pessoa traz sua história, e com ela a necessidade de um cuidado próprio. É nesse espaço, entre mim e o outro, que algo novo pode nascer, sem pressa, sem exigência, no tempo de cada um.


Alguns dos pensamentos que me acompanham de Winnicott:


  • A importância do ambiente, que sustenta o bebê e lhe dá condições de crescer de forma saudável.


  • A transicionalidade e o brincar, esse lugar intermediário entre o dentro e o fora, onde a criança cria e simboliza, e que também na vida adulta nos permite sonhar e reinventar.


  • A personalização, quando a psique encontra morada no corpo, enraizando o ser em si mesmo.


  • A noção de falso self e verdadeiro self, mostrando como às vezes nos protegemos com máscaras, mas também como podemos reencontrar o caminho de volta à espontaneidade.


  • A função do analista como presença: não apenas interpretando, mas oferecendo um espaço confiável, onde o sujeito pode existir como é.


Winnicott me lembra, todos os dias, que a psicanálise é, antes de tudo, encontro.

Um encontro que se faz no cuidado, na escuta e nos pequenos gestos... e que abre caminho para que cada pessoa reencontre aquilo que pulsa como mais verdadeiro dentro de si.

Carolina Rebelo
CRP 06/141809

 

Quando procurar terapia? Sinais que pedem acolhimento

2 setembro, 2025

Muitas pessoas acreditam que a terapia deve ser buscada apenas em momentos de crise,  quando já não se aguenta mais a dor, quando a ansiedade aperta, quando as relações chegam ao limite. É verdade que nesses momentos a psicoterapia pode ser um apoio fundamental. Mas ela também pode ser buscada quando sentimos que algo dentro de nós pede atenção, quando percebemos que não conseguimos seguir sozinhos como antes.

Não existe uma única “hora certa”, mas há sinais que podem indicar que esse é o momento de procurar ajuda:

  • quando as emoções parecem intensas demais e difíceis de serem compreendidas;

  • quando há repetição de conflitos nas relações, trazendo sofrimento;

  • quando o corpo começa a falar por meio de sintomas físicos que não se explicam facilmente;

  • quando o vazio, a insegurança ou a tristeza se tornam constantes;

  • quando você sente que não consegue ser plenamente quem é.

A terapia pode oferecer essa experiência: um encontro em que a pessoa é acolhida em sua singularidade, sem pressa, sem exigências, podendo se descobrir e se reconstruir a partir daí. O setting terapêutico funciona como um espaço sustentado, em que fragmentos da experiência encontram lugar para serem elaborados. Ali, emoções que antes pareciam caóticas podem ser nomeadas, silêncios podem ser escutados, e novas formas de estar no mundo podem emergir.

Buscar terapia não significa fraqueza. Ao contrário: é um gesto de coragem e de responsabilidade consigo mesmo. É um dizer silencioso: “minha dor merece cuidado”, “minha história tem valor”, “eu posso encontrar novos caminhos”.

Seja para atravessar crises, seja para se conhecer melhor… a terapia é um espaço de encontro consigo e com a própria vida. Muitas vezes, começar esse processo é o primeiro passo para que algo novo floresça.



Carolina Rebelo

CRP 06/141809

 

Benefícios da Terapia: quando o encontro se transforma em cuidado

2 setembro, 2025

A vida nos coloca, diariamente, diante de desafios. Alguns são visíveis, outros silenciosos, quase escondidos dentro de nós. Existem momentos em que palavras parecem não dar conta do que sentimos, em que o corpo adoece ou em que os relacionamentos ficam atravessados por dores que não sabemos nomear. Nessas horas, a psicoterapia pode se tornar um espaço de respiro e de transformação.

Mais do que um tratamento para sintomas, a terapia é um convite: voltar-se para si, olhar para dentro com cuidado, redescobrir a própria história. É um espaço seguro, em que sentimentos podem ser acolhidos sem julgamento, em que fragilidades não precisam ser escondidas e em que perguntas podem existir sem pressa de respostas.

O espaço da terapia ou, como chamamos, o setting terapêutico, é o lugar em que o indivíduo pode experimentar ser ele mesmo, com suas forças e fragilidades, sabendo que será sustentado. É nesse encontro que o self encontra condições para se expressar de forma mais espontânea.

Cada processo terapêutico é único, porque cada pessoa é única. O que acontece entre paciente e terapeuta não é uma fórmula, mas um encontro humano, vivo e transformador. Aos poucos, aquilo que estava confuso pode ganhar forma, dores podem encontrar sentido, e o que parecia impossível de ser dito pode encontrar palavras.

Entre os muitos benefícios da terapia, alguns são frequentemente relatados:

  • maior compreensão de si mesmo e das próprias emoções;

  • desenvolvimento de recursos internos para lidar com crises e desafios;

  • melhora nas relações interpessoais;

  • fortalecimento da autoestima e da confiança;

  • espaço para elaborar experiências traumáticas e construir novos significados.

Mas talvez o maior benefício seja a possibilidade de se sentir acompanhado na travessia. Quando alguém nos escuta verdadeiramente, abrimos espaço para também nos escutarmos. E, nesse movimento, pequenas transformações começam a acontecer, silenciosas no início, mas profundas o suficiente para mudar a forma como vivemos e nos relacionamos com o mundo.

A psicoterapia não é sobre tornar a vida perfeita, mas sobre permitir que a vida seja mais autêntica, mais viva e mais nossa.



Carolina Rebelo

CRP 06/141809